O Natal português e o Natal romeno

12/24/2021 8:32 am Publicat de Cristina Nițu , ,

Uma celebração, dois cenários

A oeste do centro da Europa, num país que se refresca no Oceano Atlântico, festeja-se o Natal com bacalhau, bolo-rei, cabrito no forno, filhoses, sonhos ou doces rabanadas. A este do centro da Europa, um país que dá entrada no Mar Negro, festeja-se o Natal com sarmale, ciorbă de carne, salada russa, cozonac, colaci ou vinho quente.

Estes dois países são distintos em muitas formas, falam línguas diferentes, possuem tradições díspares e opõem-se no que toca ao clima, à política e ao estilo de vida. Mas no final de cada ano, tornam-se irmãos com a chegada do Natal. Tornam-se próximos porque celebram um momento de união, de paz, de amor. Um momento em que os corações se unem a cantar a famosa colindă ou A Todos um Bom Natal, um momento em que os problemas desaparecem e se focam apenas na felicidade, na vida e na gratidão por se festejar mais um Natal.

A Roménia é um país maioritariamente cristão ortodoxo, Portugal é maioritariamente cristão católico. A diferença religiosa sente-se na época natalícia devido às suas tradições religiosas, mas ainda assim, Deus e Jesus são o foco no mesmo dia. Com calendários diferentes, o dia 24 é comum para a celebração do nascimento do menino. Monta-se o presépio; preparam-se as missas; tiram-se as bíblias das estantes e acendem-se as velas. O dia 24 e 25 de dezembro são os dias mais esperados e abrem-se alas para todos os milagres.

Mercados de Natal há em todo o lado

Os mercados de Natal são o que mais me fascina na Roménia no período do fim do ano. Visitei o mercado de Natal de Bucareste (Târgul de Crăciun) na Praça Constitutiei – e que momento bem passado!, apesar da neve e do frio –, onde me senti iluminada, aquecida com o vinho quente com canela, cravo e noz-moscada, e aconhegada por pãezinhos doces com compotas caseiras de louvar aos céus. Descobri por graça divina este mercado: enquanto passeava com a minha família pela Piata Unirii, chamou-nos a atenção a multidão de gentes que caminhava em direcção ao parlamento e por feliz consequência demos de caras com o maravilhoso mercado, impossível de passar despercebido por ter como pano de fundo a eminente Casa Poporului, toda ela iluminada.

Este mercado, apesar de pequenino, é espantoso: brilhante como um céu estrelado, com pista de gelo, tendas com os melhores produtos tradicionais romenos, objectos artesanais giríssimos que dão vontade de comprar sem pensar, uma música de fundo que nos faz abanar a anca e nos transporta para um mundo encantado que é, sem dúvida, o Natal na Roménia.

Em Lisboa, os mercados de Natal também estão presentes. São mais que muitos e feitos para todos os gostos. Do tradicional ao mais moderno, do mais caro ao mais barato, tudo se pode encontrar e degustar nestes mercados natalícios portugueses. Barraquinhas de artesanato e gastronomia; animação de rua; muitas luzes a enfeitar as árvores, as lojas, e até as pessoas; cenários encantados onde se encontram fadas, duendes e renas; encontros com o Pai Natal; pistas de gelo; carroséis e rodas gigantes trazem a magia da quadra aos corações lisboetas e aos turistas que aproveitam este momento do ano para sentir o deslumbre da energia do Natal.

Para além dos mercados serem um ponto em comum em ambos os países, também se comemora um dia especial no início de dezembro. Na noite de 5 para 6, as crianças romenas aguardam ansiosamente pela chegada do São Nicolau (Moș Nicolae, em romeno), que vai encher as meias penduradas na chaminé e os sapatinhos que se encontram à porta de casa. São Nicolau é dos santos mais populares entre os cristãos e no dia 6 celebra-se a sua presença e vida, os enúmeros milagres e ajuda solidária que prestou aos pobres e às crianças. A sua bondade e generosidade é associada à criação do Pai Natal e os presentes que as crianças receberão no dia 6 marca o início da festa natalícia. Em Portugal, as crianças não esperam presentes no sapatinho neste dia mas o São Nicolau é celebrado com as festas nicolinas em Guimarães. Na Roménia não há alma que não deixe um presentinho no sapato do vizinho.

A alegria das luzes

Sabemos que as luzes têm um papel importantíssimo no decorar das cidades e no desabrochar do espírito natalício. Quando saímos à rua ao anoitecer e admiramos as luzes ligadas, algo dentro de nós desperta e uma alegria ocupa os nossos dias até à chegada do dia de Natal.

Lisboa já acendeu as luzes no passado dia 19 de novembro, mas só com a chegada de dezembro é que começamos a sentir o cheirinho a Natal. Das fases mais bonitas do ano, onde todos os problemas que se arrastaram durante os 11 meses passados parecem dissipar-se, onde a empatia, compaixão e amizade prevalecem e nos dão alento, e onde o amor transcende tudo. As ruas da capital lusitana estão totalmente iluminadas e iluminam, também, os nossos corações. Quando passeamos pela Avenida da Liberdade ou pelo Chiado vemos as copas das árvores a brilharem com lâmpadas que parecem estrelas cadentes, janelas enfeitadas com luzes a piscarem constantemente, gigantes árvores de Natal espalhadas nas praças onde só lhes faltam os presentes… mais de 200 quilómetros de luz que alegram e fazem a cidade brilhar.

O expoente máximo é o espetáculo de luzes de videomapping, projectado na fachada do famoso Arco do Triunfo, na Praça do Comércio: põe todas as luzes e luzinhas a um canto. Um espetáculo impressionante com um toque moderno, ao utilizar a multimédia, com temas desta época do ano para desvendar a contagem decrescente para o Natal, como se fizéssemos todos parte d’um calendário do Advento feito de chocolates.

Já em Bucareste, o cenário não difere. As ruas ganham um novo brilho e tornam a cidade mais brilhante que nunca, com três milhões de pequeninas luzes a marcarem presença nas principais ruas da capital. Bucareste já foi considerada uma das cidades europeias mais iluminadas, sendo transformada num cenário mágico composto por estrelas, flocos de neve, bolas, planetas, árvores de Natal e todo o tipo de ornamentos brilhantes que são motivo de orgulho nacional.

O momento mais esperado

Com o passar dos dias, e a contagem até ao dia 25, desperta-se a vontade de estar junto à lareira a assistir Love Actually e Sozinho em Casa, que todos os natais passam na televisão nacional, a ouvir It’s Beginning to Look a Lot Like Christmas e Jingle Bells, a tirar os enfeites do sótão e a espalhá-los pela casa, montar a árvore, colocar a estrela, pendurar as meias na chaminé. Um autêntico ritual que dura todo o mês de dezembro, e que quase perdura até ao Natal seguinte por ser tão bom. É um momento de família, de alegria, de entusiasmo típico de uma criança prestes a abrir uma prenda que ansiava desde o seu aniversário.

O Natal em Portugal e na Roménia é passado em tradição. Para quem é religioso, esta é a altura do ano onde se reza com aspiração, se aumenta a fé e se aprofunda a comunhão com Deus, com Jesus, com a Virgem Maria, com os anjos, com todos os santos.

A missa do galo, celebrada na véspera de Natal em Portugal, dia 24, é dos momentos mais bonitos que se vivem neste mês. Sucede o jejum do dia inteiro que se fez como preparação para a missa e para a noite da consoada. Hora em que se celebra o nascimento de Jesus, à meia-noite, e só depois da missa é que as famílias de juntam para a bela refeição e se preparam para, na manhã seguinte, trocarem os presentes que já estão debaixo da árvore há algumas semanas. Na Roménia, na noapte de ajun, as crianças cantam para os vizinhos, as mães fazem biscoitos para dar aos filhos, reúnem-se à mesa e deliciam-se depois da abstinência de carne durante 7 semanas, agradecem a Deus pela família e saúde, e deixam-se encantar pela noite fora. Porque no final… Natal será sempre Natal, seja em que país for.

Texto de Mariana Colombo.

Sobre a Mariana:

Desde que me lembro que sou apaixonada pela escrita e pela comunicação. Quando terminei o meu curso de Ciências da Comunicação, em Lisboa, soube que o meu futuro iria ser como escritora. E como tenho um fascínio pelo desconhecido e pela descoberta, viajo sempre que posso, juntando a escrita às minhas viagens. Foi numa viagem à Roménia onde me apaixonei pelo país, pelas pessoas e pela tradição. E resolvi ficar.

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