Costinești – a eternidade do Mar Negro

06/16/2021 8:44 pm Publicat de Cristina Nițu ,

A nostalgia da infância

Como diz Fernando Pessoa, “Quando as crianças brincam / E eu as ouço brincar, / Qualquer coisa em minha alma / Começa a se alegrar”. A melhor altura do ano para reencontrar a nossa criança interior e sentir a nostalgia da infância é, sem sombra de dúvida, o verão. A estação do ano que nos traz alegria, juventude, entusiasmo, brincadeiras, energia e festividades. A altura onde estamos de férias (ou pelo menos alguns de nós!) e temos tempo para finalmente relaxar e fazer todas as coisas que escrevemos na bucket list desse ano e que não tivemos tempo para fazer até então.

Este sentimento de nostalgia da infância aumenta quando vamos de férias para uma zona de praia e nos relembramos de como foi o período em que fomos crianças e adolescentes: as férias em família, a areia que trazíamos nos pés de volta a casa, o cabelo salgado, a pele morena, o cansaço do calor, o pôr do sol à beira-mar…

Felizmente que fui abençoada por crescer perto da praia. Apesar de ser citadina, o ar do mar tem um impacto na minha alma que é difícil de comparar com outra coisa qualquer. A Praia Grande, a Praia de Odeceixe e a Praia de Moledo fizeram parte do meu crescimento e trouxeram-me ensinamentos com as suas ondas e marés. Ao estar habituada a ter o mar a meia hora de distância de minha casa, mudar-me para uma cidade afastada dele trouxe-me alguns tormentos. E por isso, desde que vivo em Bucareste, para evitar insanidades devido à saudade, sempre que posso dou um pulinho até Costinești e visito o meu velho amigo.

Miguel Esteves Cardoso escreveu sobre as praias portuguesas: “aqui não há mar, há oceano. Oceano do frio e violento. Por alguma razão o peixe é bom: não tem oportunidade de ficar cozido.” Esta frieza característica faz com que só os corajosos consigam embarcar na viagem que é o mergulhar nas agitadas águas portuguesas. Às vezes a água congela-nos o cérebro e as canelas de tal forma, que quase não conseguimos regressar à toalha. Mas apesar de gostar da intensidade e força do Atlântico, a tranquilidade da maresia romena derrete-me o coração e faz-me contemplar a praia de forma diferente, percebendo que a sabedoria do mar vai para além da sua manifestação.

Um eterno amor

E quando finalmente regressamos, depois de meses sem lhe pôr a vista em cima, este milagre azul criado por Deus não nos deixa ficar mal. O primeiro vislumbre continua a ser um momento em que os nossos lábios esboçam um sorriso inconsciente, como se tivéssemos ouvido o elogio maroto que ele nos fez. O bater das ondas dá o ritmo daquela paisagem praticamente virgem e traz um dinamismo que é a pitada de sal que falta para nos sentirmos esplendidamente bem.

Não posso dizer que Costinești é tão agradável como Odeceixe nem Moledo (uma verdadeira lusitana não troca as suas praias por mais nenhumas deste mundo), mas o mar está lá e ao fim e ao cabo isso é o que interessa. A maior diferenciação entre as praias portuguesas e romenas é a postura entre o oceano e o mar: o Mar Negro, que banha Costinești, é bem mais calmo que o Oceano Atlântico que me viu crescer. É um banho pacificador, que renova as energias sem aquela agitação típica do oceano, em que temos de entrar e sair da água a correr para que não sejamos engolidos por uma onda de três metros. Neste Mar Negro transparente, podemos nadar durante horas, boiar, conversar enquanto temos a água a dar-nos pela cintura e aproveitar as ondas de forma serena. E por ser fechado, este mar banhado por dois continentes não sofre oscilações no que toca ao nível da água, sendo imune às marés. Este fenómeno faz com que as ondas sejam pequeninas e com que as idas ao banho se tornem algo extremamente prazeroso e terapêutico.

Costinești é uma vila romena no distrito de Constanța que tem a sorte de estar situada à beira-mar e ser bendita por verões inesquecíveis. Vivem em Costinești à volta de 3000 habitantes, e quando o verão bate à porta, a vila rebenta pelas costuras com turistas e estudantes a desfrutarem das merecidas férias de verão. Depois de um ano curricular trabalhoso, os jovens aproveitam cada momento: queimar a pele ao sol com óleo de coco para arrancar à força um bronzeado de fazer em inveja, passar fins de tarde a beber refrescos enquanto se despedem do sol até ao dia seguinte, entrarem pela noite dentro com os excessos típicos da idade. Um verão em Costinești é aproveitado ao máximo pelos jovens com o lema yolo (you only live once). E eles seguem-no à risca!

A minha experiência de Costinești não passa tanto pelos excessos, nem de calor nem de vida noturna, mas sim pela observação daquilo que tem de melhor: a junção da praia com a natureza. Há qualquer coisa de especial e inédito numa praia que desvanece no mesmo ponto onde floresce um campo verde cheio de flores, a melhor junção dos dois mundos naturais, a prova de que não há divisão, apenas pura união que traz ainda mais beleza ao mundo.

Os campos de papoulas e girassóis acompanham a estrada ao longo de uma série de quilómetros. Quando vamos de bicicleta de volta a casa, a admirar a harmonia que nos envolve, depois de um longo dia de pés na areia quente e ainda de cabelo molhado, a brisa que corre pelas falésias à medida que o sol se esconde e o cântico dos pássaros prestes a recolher, é o melhor fim de dia que se podia esperar no pico do verão.

Onde a areia acaba e o mar começa

As praias que correm pela vila turística (que se estendem até à Bulgária) são todas diferentes: a praia 23 de Agosto é recheada de conchas de todos as formas e feitios, onde a sombra chega ainda não são seis horas. A Praia do Golfo Francês é feita de criações artísticas com grandes e pequenas pedras, com algas a cobrirem os primeiros metros de mar e com gaivotas aqui e acolá a petiscarem o que encontram na areia. A praia da Epava é a mais original de todas: pequenina, com um areal onde cabem meia dúzia de pessoas, mas com uma gigante companhia atracada dentro de água desde 1968. Um navio de carga irlandês (Evangelia) naufragou na costa de Costinești e por lá ficou. Cheguei a nadar até lá, no meio dos pequeninos barcos que levam os turistas a visitar os destroços – um desastre que se tornou uma autêntica atração local. Há ainda praias mais pequeninas, cujo nome não se sabe, mas cuja beleza faz estremecer a alma. Puras, intactas, inexploradas pelo homem e a esbanjarem o poder da natureza na sua forma mais sublime.

Numa dessas praias perdidas na costa vi o nascer do sol mais impressionante que alguma vez presenciei. O entusiasmo de acordar ainda de noite, vestir uma camisola mais quente para suportar o fresco da aurora, e ir em direcção à praia. Chegar à areia fria, a praia vazia, só as gaivotas e as alforrecas a fazerem-me companhia, e a espera até ao momento em que o sol acorda e sentimos os seus raios, ainda reservados, sem muita força, a jorrar energia para mais um dia de verão.

É um contraste de sentimentos quando vejo o nascer do sol na linha do mar porque cresci a vê-lo a dizer-me adeus no oceano, a posar elegantemente sobre a linha do horizonte e a desaparecer num piscar de olhos, até ao dia seguinte. Cheguei a assistir ao famoso raio verde, um raro fenómeno meteorológico onde no último segundo antes do sol desaparecer por completo, explode um raio verde florescente no horizonte que nos deixa perplexos. Este fenómeno também pode acontecer no nascer do sol, embora Costinești ainda não me tenha presenteado com tal momento (a esperança é a última a morrer!)

Com ou sem raio verde, a beleza das praias do Mar Negro é algo que vale a pena aproveitar num dia quente verão: relaxar numa chaise-longue à beira da praia enquanto ouvimos o Samba de Verão de Caetano Veloso, sentir o sol a seduzir-nos a pele e deliciarmo-nos com um sumo de melancia, percebendo que isto é, na verdade, das melhores coisas da vida.

Texto e fotografias de Mariana Colombo.

Sobre a Mariana:

Desde que me lembro que sou apaixonada pela escrita e pela comunicação. Quando terminei o meu curso de Ciências da Comunicação, em Lisboa, soube que o meu futuro iria ser como escritora. E como tenho um fascínio pelo desconhecido e pela descoberta, viajo sempre que posso, juntando a escrita às minhas viagens. Foi numa viagem à Roménia onde me apaixonei pelo país, pelas pessoas e pela tradição. E resolvi ficar.

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