À conversa com uma estudante são-tomense na Romênia
Hoje estamos conversando com Jamilta Mendes de São Tomé e Príncipe. Jamilta está aprendendo romeno na Universidade de Oeste de Timișoara, no ano preparatório para os estudantes de outros países.
Alex: Jamilta, pode nos contar um pouco sobre você, por favor?
Jamilta: Sou Jamilta Mendes, tenho 21 anos de idade e sou de São Tomé e Príncipe. No meu país morava na zona rural com os meus pais. Sou filha de dois humildes camponeses, sou uma pessoa determinada e persistente. Sou apaixonada pela psicologia e pela literatura, em particular pela poesia.
Alex: Que ótimo! Tem algum poeta preferido? E como foi a escola em São Tomé?
Jamilta: Durante o meu percurso escolar em São Tomé conheci e convivi com colegas e professores que me fizeram crescer como pessoa e como estudante. Tive professores incríveis que sempre me encorajaram a persistir a acreditar nos meus sonhos e principalmente nunca desistir dos meus objetivos. Eles sempre deixaram bem claro que o futuro está na educação.
Por ser uma pessoa um pouco tímida sempre tive dificuldades em expressar os meus sentimentos até conhecer o senhor Albertino Will, um dos escritores do meu país que, a propósito, é o meu poeta preferido. Encontrei na escrita a melhor forma de expressar o que sinto em relação ao mundo e as pessoas que me rodeiam e na leitura aprendi a compartilhar os meu sentimentos.
Tenho ótimas lembranças dos mesmos, pois mais que professores foram os meus segundos pais, mas também conheci pessoas más, pessoas que por algum tempo complicaram a minha vida. Felizmente, sem perceber, elas me tornaram mais forte, me ajudaram a me preparar para a vida e pelos desafios que virão no futuro.
Alex: Foi isto que determinou você vir para a Romênia? Conte-nos um pouco sobre a sua decisão e a sua chegada. Quando foi que chegou e o que estuda aqui?
Jamilta: Cheguei na Romênia no dia 12 de Fevereiro de 2021, decidi vir para a Romênia porque fui contemplada com uma bolsa de estudo ofertada pelo governo romeno ao meu país. No momento estou no ano preparatório, só no próximo ano letivo irei estudar psicologia.
Alex: Chegou sozinha na Romênia? Já conseguiu fazer novas amizades?
Jamilta: Não. Cheguei na Romênia com uma das minhas colegas de São Tomé e Príncipe. Sim, já tive a oportunidade de conhecer muitas pessoas, a maioria são romenos que a propósito são super acolhedores, e muito responsáveis. Digo isso pela forma em que se dedicam aos seus estudos. Admito que pessoalmente isso é uma das coisas que mais admiro nos romenos.
Alex: Antes de decidir estudar na Romênia, você já tinha ouvido falar muito sobre o país?
Jamilta: Na escola, os meus professores e colegas comentaram a respeito do país. Fiz questão de pesquisar um pouco mais para ter uma percepção mais abrangente do país relativamente aos costumes e à ideologia.
Alex: Qual é a imagem da Romênia em São Tomé?
Jamilta: A população santomense conhece Romênia como um país de grande extensão geográfica e um nível populacional muito elevado. Mas a maioria dos santomenses tem um conhecimento muito restrito da Romênia.
Alex: Já que tem mais de quatro meses que você está aqui, o que é que você achou diferente ou estranho aqui? Será que poderia nos dar algum exemplo ou exemplos em concreto?
Jamilta: As casas são muito diferentes e a rotina das pessoas também. A maioria das pessoas no meu país trabalha no campo, a nossa economia é baseada na agricultura e na pecuária, ao contrário da Romênia. Pelo pouco que observei a vossa economia, além de estar concentrada na indústria, também aposta na pecuária e na agricultura em relação à dimensão geográfica. Só para terem uma ideia, o meu país é mais ou menos quatro vezes menor que a cidade de Timișoara, igualmente em relação à densidade populacional.
Alex: Concordo plenamente. Mas o que você achou mais difícil aqui?
Jamilta: O mais difícil aqui, na minha opinião, é viver em um apartamento.
Alex: Isto porque em São Tomé vivia numa casa? Conte-nos um pouco, por favor, sobre a sua vila.
Jamilta: Acredito que sim, em parte porque passei a minha vida toda vivendo em uma casa comum, de madeira e agora só posso viver em um apartamento. O fato de eu ter vivido a minha vida inteira em uma casa fez com que agora seja mais difícil para mim viver em um apartamento.
Em São Tomé a minha família mora em uma vila onde fazemos criação de animais para o nosso consumo, temos várias plantações de frutas e legumes no quintal, um riacho na vila onde podemos tomar banho e até mesmo lavar as nossas roupas.
Timișoara: a pequena Viena da Romênia
Alex: Você quer ficar aqui no futuro?
Jamilta: É complicado dizer sim ou não pois o futuro é incerto. A ideia é terminar a faculdade e regressar ao meu país mas se houver oportunidade de ficar por mais tempo certamente que ficaria, porque gostei muito do país por ser muito calmo e em especial por ter pessoas tão acolhedoras.
Alex: Você recomendaria a universidade e os professores para os seus amigos se eles quiserem vir para cá também?
Jamilta: Com certeza os recomendaria, apesar das aulas esse ano serem online por causa da situação que o mundo atravessa, os professores têm dado o seu melhor para nos ajudar a entender melhor a língua romena, junto aos nossos tutores que têm desempenhado um papel fundamental para a nossa aprendizagem, na medida que falam a nossa língua de origem e se interagem de certa forma connosco.
Alex: Estou muito feliz de ouvir isso. Você tem mais alguma coisa que queria nos contar?
Jamilta: Apesar das diferenças culturais, estou gostando de estudar na Romênia por ser um país calmo, e porque as pessoas incentivam o cultivo das árvores, isso demonstra respeito que têm pela nossa mãe natureza.
Alex: Muito obrigado pelo seu tempo e por nos ter contado um pouquinho sobre você e a sua experiência!
Jamilta: Eu é que agradeço a oportunidade!
Entrevista de Alex Bobic, estudante na Universidade do Oeste de Timișoara.
Texto publicado com o apoio da Iolanda Vasile, Leitora de Língua Portuguesa do Camões Instituto da Cooperação e da Língua – Faculdade de Letras, História e Teologia da Universidade Oeste de Timișoara (Roménia).
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