Băile Herculane: o paraíso dos Deuses
Băile Herculane: o paraíso dos Deuses
Paris. Roma. Praga. Berlim. Quando vamos a estas capitais, o que procuramos? O que nos chama a atenção? O que nos dizem as ruas das metrópoles, cobertas de gente de todos os lugares? A mim, em termos culturais, dizem-me pouco… E Bucareste não é excepção.
Nos dias de hoje, com a globalização e diversificação cultural, uma capital transmite-me muito pouco do seu país. Não respira a tradição, não demonstra a essência, não expressa a alma de forma genuína. Uma capital pode ser riquíssima a nível social e económico, cultural até a um certo ponto, mas o verdadeiro núcleo do país, a verdadeira origem não se encontra nessa cidade multinacional, mas sim nos cantos e recantos que muitas vezes passam despercebidos no resto do território.
Foi numa das viagens que fiz à descoberta da autenticidade romena que me cruzei com um lugar onde o paraíso se instalou há muitos e muitos anos. E nunca ninguém me tinha dito! Um paraíso discreto, simples… puro. Um paraíso dos Deuses. Uma pureza que se sente quando há pouca mão do Homem, quando a natureza ganha em prol do desenvolvimento. Quando a natureza tem a sua liberdade e corre ao sabor do vento, espalhando a sua magia por onde passa. E este lugar é a prova viva disso.
A imensidão e riqueza que a natureza transparece neste refúgio, Băile Herculane, de seu nome, nesta cidade instalada perto da fronteira com a Sérvia, é algo que – quase – me deixa sem palavras.
O refúgio mais antigo da Roménia
2 mil anos. Este é o tempo de vida deste refúgio milenar, que nasceu no ano 153, quando os romanos chegaram à Dacia e a admiração foi tal que transformaram a cidade num refúgio balnear, mal eles sabiam que iria ser famosa por isso, até aos dias de hoje.
Băile Herculane é sem dúvida uma pérola romena (melhor dizendo, uma das), daquelas que brilham no escuro, que iluminam o espaço apenas com a sua deslumbrante presença. Assim é o brilho que transparece nesta cidade bem aconchegada por montanhas. Este vale tem como guardião o Parque Nacional Domogled-Valea Cernei, situado nas montanhas Retezat-Godeanu, sendo estas rodeadas pelas montanhas Cernan e Godeanu (Este) e pelas Medinti e Valcan (Oeste).
Podemos imaginar o impacto que tanta montanha junta tem quando é admirada, tanto ao longe, como ao perto. É uma visão que poucos têm o privilégio de conseguir, mas que todos deviam tentar alcançar: é ver e sentir o expoente máximo da fauna e da flora, 14 espécies diferentes de mamíferos, inúmeras espécies de pássaros, o rio Cerna a dar o toque de azul esverdeado à paisagem, as incríveis cascatas, desfiladeiros, enfim… uma panóplia de naturais obras de arte pintadas com o mais sublime dos pincéis.
E para além de toda a vista ser de cortar a respiração, quando se sobe ao topo das montanhas, por entre caminhos estreitos onde as folhas sussurram palavras bonitas, onde as árvores demonstram sabedoria milenar, encontramos o que todo o ser humano busca: paz de espírito. Com o ar extremamente puro – o ar em Herculane é negativamente ionizado, o que faz com que se respire melhor –, com a sublime atmosfera, no meio da mãe natureza, a calma reina e o sentimento de plenitude desperta dentro de quem contempla este espaço tirado dos contos de fadas.
Uma autêntica caixinha de surpresas
Diz-se que a origem do nome desta cidade maravilha, situada no distrito de Caras-Severin, deriva do latim, Aqua Herculis, apelidada depois do semi-Deus Hércules se ter banhado nas termas. Diz-se também que, no tempo romano, a aristocracia tinha especial fascínio pela cidade devido aos poderes curativos da água.
E para além dos Deuses, também os imperadores tinham amor por este lugar. A Imperadora Austríaca, Isabel da Baviera, no séc XIX, frequentou as termas diversas vezes e considerava o resort num dos sítios mais bonitos do território romeno.
Agora já não existem imperadores mas existem os nativos deste Olimpo termal. Os habitantes desta cidade (à volta de 6000) são um cartão de visita que merece ser referido, com a sua tamanha hospitalidade e alegria. Sente-se como amam a sua terra, como dão valor à natureza, como tomam conta da cidade. Em cada loja que entrava, a doçura e alegria com que me vendiam o leite e queijo típicos da região, ou o pão com espinafres acabado de sair do forno, era estonteante. A sua simpatia e simplicidade é algo que não se esquece.
Cădițe – os banhos termais
Agora, as termas. A bendita cereja no topo do bolo. As termas são espaços rústicos e simples, muitas situadas no meio da natureza onde só há árvores à volta. O luxo de antigamente desvaneceu no tempo… Os pavilhões imperiais decaíram com a falta de cuidado e manutenção, mas mesmo sem a riqueza e ostentação do passado, os benefícios e propriedades de cura da água mantêm-se, e isso é o que interessa verdadeiramente.
Com água ionizada em 16 termas, as vantagens do banho termal são variadas: reduz o stress, ajuda a dormir melhor, melhora a fadiga crónica, ajuda com problemas respiratórios, é bom para a pele e reduz a frequência de dores de cabeça.
As piscinas termais funcionam como desintoxicantes naturais e as águas têm diversos minerais: enxofre, cloro, sódio, cálcio, magnésio, entre outros. Herculane é abençoada com um espólionatural que faz concorrência aos patrimónios mundiais, relembrando-nos a importância da preservação da natureza, da sua abundância, da sua majestiosidade e grandeza.
E para acompanhar o típico momento termal, com água onde a temperatura varia entre os 38º e 62º, temos o rio Cerna. O rio gelado geladinho onde nos devemos banhar depois de estar uns minutos na água quente, criando assim uma alteração de temperatura. Este processo é algo extremamente saudável mas que só os mais corajosos se atrevem a fazer. As termas estão harmoniosamente instaladas ao lado do rio, dando um fácil acesso a este vai e volta entre água gelada e água escaldante.
O percurso antevê o maravilhoso destino
E a viagem até chegar a este destino? Uma excursão feita de carro, com partida em Brasov: 8 longas horas (Portugal faz-se de Este a Oeste em três horas e de Norte a Sul em seis, portanto viagens longas de carro não é costume pelos lados dos Lusitanos), por entre as estradas nacionais romenas, por entre aldeias e vilas onde a auto estrada teima em não chegar, por entre vales e montanhas pintados de verde e de todas as cores… um caminho que se faz questão de guardar num espaço especialmente criado na memória, para nunca desaparecer.
Uma espera que vale a pena, uma viagem que se deve fazer para podermos finalmente chegar a um paraíso onde o sol se põe por entre os montes e vales, onde o céu cobre com amor a colorida paisagem, onde a força das montanhas se sente só de olhar. Onde a natureza encontra a sua manifestação suprema e onde nos podemos simplesmente deixar levar por ela, absorvermo-nos na relva, cheirar o ar puro, fechar os olhos e sentir o vento a acariciar-nos a face.
Herculane tem, sem dúvida, um charme especial. Depois de tudo isto, só se pode descrevê-la como uma cidade inesquecível. Não há nenhuma Paris, Roma, Praga ou Berlim que a substituam.
Texto e fotografias de Mariana Colombo.
Sobre a Mariana:
Desde que me lembro que sou apaixonada pela escrita e pela comunicação. Quando terminei o meu curso de Ciências da Comunicação, em Lisboa, soube que o meu futuro iria ser como escritora. E como tenho um fascínio pelo desconhecido e pela descoberta, viajo sempre que posso, juntando a escrita às minhas viagens. Foi numa viagem à Roménia onde me apaixonei pelo país, pelas pessoas e pela tradição. E resolvi ficar.
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